sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O artigo não publicado

Tentei publicar este artigo recentemente. Ofereci ele a alguns jornais e também para algumas "vozes" do oriente médio.

Infelizmente, não foi publicado. Uma das pessoas que foi mais sinceras comigo me disse abertamente que o artigo "não se posiciona" em relação a um lado do conflito.

Pois reconheço que o objetivo do artigo era ser neutro. Acredito que o mínimo que uma pessoa possa fazer aqui, como membro da comunidade internacional, é evitar apontar os dedos e procurar analisar as coisas como elas são. Pois só sobre a neutralidade é que se constroí a paz. A preocupação, ao meu ver, tem que estar nos dois lado.

Aqui esta o artigo.

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Jerusalem é uma cidade maravilha mas infelizmente dividida. No coração da cidade, esta localizada a cidade antiga que, para qualquer turista, parece um retorno a um passado distante. Aqui não circula nehum carro e as ruas para pedestres parecem um labirinto infinito, no qual não é muito diffícil se perder e, é claro, encontrar grande numeros de igrejas, mesquitas e synagogas. Fora dos muros da cidade antiga, a cidade nova é dividida entre o Bairro Judeu (Jerusalem do Oeste) lembrando partes de Curitiba e do outro, o Bairro Árabe (Jerusalem do Leste) lembrando a Zona Leste de São Paulo aonde também se encontram a maioria das embaixadas estrangeiras. Sheikh Jarrah é um bairro localizado em Jerusalem do Leste e esta lentamente se tornando um novo campo de batalha num conflito maior e complexo.

O bairro tem uma história complicada e controversa. O único sinal visível desta história é a presença de uma Mesquita Muçulmana Medieval dedicada a um dos soldados de Salahadim e também, o tumulo de Shimon HaTzadik, um Judeu extremamente importante na história do povo judeu.

Desde Novembro de 2008, quatro casas de residentes Palestinos foram demolidas em Sheikh Jarrah pela Polícia Militar Israelense. Em alguns casos, as família que tiveram suas casas demolidas tiveram que pagar multas por viver lá “ilegalmente” e também as despesas necessárias para cumprir a demolição. Mesmo sendo um bairro majoritariamente Arabe nos últimos sessenta anos, em 2008, um Tribunal da Municipalidade de Jerusalem declarou que algumas partes do Bairro pertence a uma Comunidade Judia. A expulsão da primeira família, a família al-Kurd, em Novembro de 2008, foi seguida imediatamente pela mudança de uma família de Judeus ortodoxos neste lugar.

Tudo começou há dois séculos atrás quando no final do século 19, se estabeleceram lá quase simultaneamente, uma comunidade Judia e uma vila Arabe. Ambos se desenvolveram pacificamente até guerra de 1948 entre Israel e países Arabes. Naquele momento a ONU tomou conta do lugar e em 1956 foram reassentadas em Sheikh Jarrah 28 famílias que foram expulsas da região de Haifa e outras de Jerusalem do Oeste pelo Exercito Israelense. Em 1967, durante a guerra de seis dias, Israel anexou militarmente a área e a integrou dentro do munícipio de Jerusalem. Esta ação vai contra o direito internacional pois não foi reconhecida pelo Conselho de Segurança da ONU, pois um país não pode anexar um país que ele ocupa militarmente. Desde os anos 80, a mesma comunidade Judia tem tentado reapropriar o bairro por ações judiciais. Por conta disto, de acordo com a agência da ONU no local, o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, ou OCHA, um terço do Jerusalem Arabe já foi expropriado para a construção de assentamentos para Israelenses mesmo com a proibição expressa do Direito Internacional de que tribunais Isralenses possam exercer sua soberania sobre o bairro.
Infelizmente, demolições já se tornaram comum: de acordo com a ONU acontecem mais ou menos 100 demolições por ano e outras 1’500 casas já receberam uma ordem de expropriação e aguardam o dia da demolição de suas casas.

Toda sexta-feira, as 15h00, o bairro de Sheikh Jarrah recebe uma procissão curiosa. Rabinos, Judeus Ortodoxos e Judeus não-Ortodoxos se reunem em frente ao complexo residencial do qual foram expulsas as famílias e aguardam tranquilamente o grupo crescer e a chegada infalível da Polícia Militar. Neste momento, um dos rabinos levantam um megafone e grita em Hebreu e em Árabe: “Judeus e Arabes recusando a serem inimigos! Judeus e Arabes sempre amigos!” Em pouco tempo, os policiais avançam sobre o grupo e existem vários relatos sobre a violêcia excessiva dos policiais. Num protesto recente, a polícia prendeu 24 pessoas.
Ao lado dos protestantes, esta sempre presente o pequeno grupo de Palestinos que foram expulsos de suas casas. Do outro lado dos policiais, um grupo menor de Judeus-Ortodoxos que vivem dentro do complexo residencial observam os demonstrantes.

O protesto de Sheik Jarrah, que acontece pontualmente as 15h todas sexta-feira é uma cena insólita: Judeus gritando pelo fim da demolição de casas para a construção de complexo residencial Judeus. De acordo com Maya Windl, organizadora dos protestos de Sheik Jarrah, participam deste protesto um conglomerado de ONGs que acreditam num Israel differente, um que respeita seus vizinhos históricos: os Arabes. São essas: the Israeli Committe Against House Demolitions, Taayush, Combatants for peace, Gush Shalom, Anarchists Against the Wall entre outras. Ela também diz que tem pouca esperança em relação a outras iniciatiavas da sociedade civil contra este tipo de ação do governo de Israel pois na avaliação dela: “A nossa sociedade, infelizmente, esta se tornando cada vez mais racista e cada vez mais de direita”.

Fora os Israelenses e Palestinos, haviam Noruegueses, Americanos, Franceses, Canadenses, e até Brasileiros, todos mostrando a preocupação internacional em relação ás expulsões e demolições. Porém, a organizadora lamenta: “a grande mídia esta mais interessada em homens bomba ou nos ataques do F-16 Israelenses em Gaza.”

Minarete com Igreja ao fundo.


Poesia Sufi e a Religiosidade da Cidade

Recentemente percebi que o meu blog esta tratando muito de religião.

Acho que devo certas explicações, e nada melhor do que Poesia Sufi para explicar isto.

Em Jerusalem, a presença de simbolos religiosos, pessoas religiosas, prédios religiosos, templos, cruzes, meia-luas, freiras, burqa, kipa é omnipresente. Os meus encontros recentes, tem sido com pessoas muito interessadas no lado religioso da cidade e as perspectivas de muitas coisas, principalmente a política, recebe muitas vezes uma explicação bíblica ou sagrada.

De qualquer maneira, recentemente li um pouco sobre o Islã. Não sei se por interesse ou por tantas pessoas me encher com uma interpretação super positiva ou super negativa. Nessas pesquisas e leituras, acabei encontrando algo que me muito me chamou a atenção: Poesia Sufi.

O Sufismo é um grupo minoritário dentro do Islã que se identifica pela maneira como qual rezam. Eles acreditam numa experiência pessoal com Deus que pode ser atingido por maneiras religiosas: então algumas pessoas dançam, outras cantam, outras escrevem poesias!

Traduzi alguns clássicos da peosia Sufi abaixo para seu deleite:

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Ô Deus,
Se rezo assim para Você,
Se rezo assim, apenas,
Pelo medo que me enche ao lembrar dos portôes do Inferno.
Lhe imploro, me envie diretamente para as chamas deste Inferno.

Õ Deus,
Se rezo assim para você,
Se rezo assim, apenas,
Pelo desejo puro que me invade ao lembrar das doçuras do Paráiso.
Lhe imploro, feche portões altissimos em frente deste Paraíso.

Mas Deus,
Se eu rezo por Você, e apenas por Você,
Por sua presença e existência, aqui e para sempre,
Aqui e em todo lugar.
Lhe imploro, que me permite presenciar sua beleza a cada segundo
Desta minha pobre existência.

Rabi´a al-Adawiyya

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No amor, nada existe que possa separar dois corações.
As palavras, as frases, nasceram da saudade,
A saudade é a única que explica o Todo Poderoso.
Aquele que sente saudades, sabe;
Aquele que tenta explicar, mente.
Como se pode explicar algo,
Que esta presente dentro de você e te embebeda?
E dentro do qual você vive a cada segundo?
E que vive apenas para que você possa orientar sua jornada?

Rabia al-Adawiyya

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Marginal de Araras e Jerusalem

Fazem mais o menos um mês, deixei minha querida Araras para mudar radicalmente de ambiente. Uma oportunidade inesperada de trabalhar como voluntário em um projeto social e estudar Arabe me trouxe aqui para uma das cidade mais disputada e conflituosa do mundo: Jerusalem. Neste primeira mês, tive a oportunidade conversar com pessoas normais dos dois lados do conflito, uma tarefa que seria muito mais dificil se não fosse pela geografia incomum da minha rotina semanal: estou morando no bairro Judeu da cidade velha de Jerusalem e trabalhando em um teatro em Ramallah, na Palestina. Digo que minha rotina é “incomum” pois na realidade há pouquissimo contato entre esses dois mundos tão próximos e tão inimigos por conta de várias separações. Digo separações, pois existe a separação física que é feita por muros, barreiras e check-points militares (que parecem mais ou menos como a fila de imigração num aeroporto internacional com várias maquinas de Raio-X e seguranças) que separam dois. A outra é a separação invisível: que é representada pela diferença cultural, political, social e, principalmente, religiosa que existe entre o povo Palestino e o povo Israelense. Por um lado, insisto que esta segunda differença seja invisível, pois os dois povos tem muito mais em comum do que differente. Me levou um bom tempo para reconhecer a differença entre o idioma Hebreu e Arabe – dois idiomas muitisimos parecidos. Sem esquecer que os dois povos consideram a mesma terra seu lar legítimo. Infelizmente, o mais que converso com os dois lados, o mais me parece que a paz esta distante de chegar por aqui. Nos bairros judeus, todos tem medo dos Homens-Bombas e na Palestina, todos estão cansados da ocupação militar do exercito Israelense.
Depois de um mês, cansado com discursos inflamados de ambos lados, decidi que precisava de uma atividade para relaxar e me distrair – para me sentir em casa, decidi começar a correr como sempre fiz em Araras na minha querida Marginal. Depois de estudar o mapa daqui cuidadosamente, encontrei a minha perfeita Marginal – os muros da cidade antiga. A cidade antiga é praticamente um forte medieval no centro de Jerusalem e me surpreendeu que o muro dá mais ou menos a mesma distância da Marginal – uns 5 kms.
Começei a contar esta minha decisão para alguns conhecidos. A primeira reação foi de um amigo Judeu que conheci próximo ao muro das Lamentações. “Você vai correr em volta da cidade velha! Mas isto é loucura, é muito perigoso! Você vai passar pelo lado Arabe da cidade!” Pouco depois, contei para um amigo Arabe que também me desaconselhou: “Mas no lado Israelenses tem muitos soldados, eles tem fama de atirar em tudo que se move, a não ser que você queira correr não se movendo!”.

Confesso que essas declarações preocupadas me fizeram pensar duas vezes antes de colocar o sapato e quedis. Mas aos poucos, a vontade correr me fez vencer o medo. Corri. Por minha surpresa, fui aplaudido por várias pessoas que nunca viram ninguem correr por ali. Algumas gostaram, outras, olharam com olhos arregalados o ET Ararense. Fiquei bastante animado e decidi correr mais frequentemente. Ao contar a experiência para os dois que me haviam desaconselhados os dois tiveram mais ou menos a mesma reação: também queriam começar a correr.

Este pequeno episódio, me lembrou que antes de partir de Araras quando eu corria pela Marginal, corria absolutamente sózinho, sem encontrar outros corredores Ararenses. Um pouco preocupado, perguntei para os frentistas dos muitos postos que se encontram em volta da Marginal. A resposta deles foi mais ou menos igual: “agora não é como antes, a Marginal é um lugar perigoso, aconteceu até um assassinato aqui.” Tristemente, lembrei de meu amigo Caio, vítima deste acontecimento infeliz em nossa cidade. Porém, por outro lado, o horro deste acontecimento, e os tantos horrores que acontecem aqui em Israel, me anima a correr mais ainda para justamente não dar a vitória para aqueles que querem tirar nossa liberdade, seja ele, o racismo ou intolerência religiosa em Israel, ou a violência Brasileira.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A história das várias histórias de conversão...



Nos últimos dias, fui testemunha de algumas pessoas tentando me converter.

Uma dessas tentativas, é de um certo senhor que usa um roupa religiosa e fica estacionado no Portão de Damascus, uma das saídas da cidade velha. O Portão de Damascus é um dos lugares mais fantásticos de Jerusalem, ô lugarzinho bonito sô. Ela conehcida como portão de Damascus pois ela da acesso ao bairro árabe da cidade. Aqui esta uma foto antiga do Portão de Damascus. Hoje ela é muito diferente com um movimento intenso de pessoas vendendo coisas. Quando se senta no Portão de Damascus se percebe o quanto Jerusalem é uma cidade Arabe.

Enfim, neste portão, fui abordado alguma vezes por um sujeito com roupa que, meio que infelizmente, para nos Brasileiros, parece-se muito como um pijama do que qualquer outra coisa.

O rapaz me abordou umas três vezes e muitas vezes esquece que já havia conversado comigo por abordar tantos estrangeiros durante o dia. Sempre vem com a pergunta "você cristão?". Ao responder que sim, inicia-se uma técnica que tenho minhas dúvidas se já funcionou para converter qualquer pessoa. Praticamente, ele explica na cara dura que a Bíblica foi corrompida por várias pessoas e pelo tempo, que Jesus não foi o último profeta de Deus, que o Cristianismo se tornou um tipo de Politeismo, praticamente me dizendo que vou para o inferno para depois me convidar a participar do Islã. Enfim, só não fico extremamente enfurecido pois infelizmente esses momentos representam um momento de verdade no qual aprendo o quê alguns elementos realmente acham da minha religião pois já ouvi esses argumentos algumas vezes. Com minha paciência de Jó, consegui transformar essas tentativas em um amizade desconfiada.

Num outro momento, estava no bairro judeu e um joven Americano desta religião tentando me convidar para participar de jantares shabbaticos. Ao perceber que não era da religião, virou a cara e me disse "tenha um ótimo dia".

Daí aconteceu a pequena conversão de ontem que, acreditem ou não: deu certo.

O caseiro da faculdade aonde estudo Árabe, é mudo. Não fala nada, não ouve nada.

Estava esperando a professora num dia, e lá vem ele, apertou minha mão para se introduzir. Ele mostrou com sua mão que não falava e não ouvia. E daí pouco depois fez este movimento: apontou para o céu, e aponto para eu e ele. Ou seja, nos dois somos filhos de Deus, mesmo sendo de dois mundos e duas religiões tão distintas.

Conseguiu me converter a religião dele.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Minha noite mística...

Ontem a noite, aconteceu algo que me surpreendeu imensamente. Uma mera coincidência. Ainda me pergunto.

Não conseguia dormir. Então parti para o Plano A: pesquisar um pouco sobre política na internet. Por sinal, encontrei este site muito bom que fala um pouco sobre a Política local:

http://war.change.org/blog/view/a_crash_course_in_palestinian_presidential_politics

Fiquei uma hora aqui esperando o sono. Ao ver que estava ainda super acordado. Saí para dar um passei e comer numa casa de quebabs que fica do outro lados do Muro da Velha Jerusalem. Saí andando, comi o Quebab e voltei para dentro dos muros medievais que são magnificamentes iluminadas de noite.

Passei os grupos que mais se encontram de noite dentro da velha cidade: seguranças israelenses, sempre altamente aramados, e sempre, paradoxalmente, com carinhas de anjos querubins, e grupos de jovens palestinos discutinho em voz alta e dando gargalhadas que se ricocheiam por entre os corredores apertados desta pequena e controversa cidade medieval.

Daí tive uma idéia: ir no Muro das Lamentações de noite. Algém havia me dito que o Muro era aberto 24 por 7.

Fui.

Desviei o meu caminho de Beit Habad, pegando a Via Dolorosa (por onde Jesus passou levando sua cruz) e peguei o caminho de El Wad Hagai que, apesar de ser no bairro Arabe, se vê muitos Judeus Ortodoxos voltando de suas orações no Muro.

Avistei um grupo de três pessoas na minha frente. Com as feições tipicamente Arabe e um Negro, falando alto em um Arabe mais suave. Ao me aproximar, o Arabe suave foi se transformando em...português.

Halucinado com este encontro parei o grupo e pergutei de onde eram. Os três representavam uma perfeita delegação nordestina, um Bahiano, um Sergipenho e outro Pernambucano. Acabavam de visitar o Muro das Lamentações e estavam em Jerusalem por se interessar pelo Islã por conta de seus antepassados, que, possivelmente, eram Muçulmanos. Estavam lá para conhecer o terceiro lugar mais sagrado do Islã: a Mesquita Dourada e a Mesquita Al Aqsa que fica ao lado do muro das Lamentações.

Agradeci a conversa e continuei minha andança muito feliz com aquele encontro tão Brasileiro.

O Muro das Lamentações a noite é um lugar impressionante e mostra mais uma vez, o carinho que o povo Judeu tem como este muro de mais de 2000 anos. Muitos dormem em frente ao muro! Outros cantando em prantos em frente ao monumento. Isto já era quase uma da madrugada.

Decidi voltar para meu hostel no Bairro Cristão pelo Bairro Judeu. Subi do outro lado passando pela antiga Synagoga de Hurva. Neste momento, avisto três pessoas, e percebo, pelo Kipa, que são Judeus falando um Hebreu mais brando que aquele que já estava acostumado.

Aos poucos, sim, adivinharam, o Hebreu se transformou em Português. Fui conversar. Três Paulistanos, dois de Higienopolis e um de Jardins. Conversei sobre Israel. Me explicaram com muito orgulho sobre Israel e como é muito mais desenvolvido que o Brasil.

Agradeci a conversa.

Até agora não entendi esta coincidência.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O curioso protesto em Sheik Jarrah

Uma guerra é representada por dois campos de batalhas: um visível e o outro invisível. No conflito entre Palestinos e Israelenses a batalha visível são as cenas tão conhecidas de jovens palestinos lançando pedras contra tanques israelenses e homen bombas palestinos em cidades israelenses.

Estando aqui em Jerusalem, posso afirmar que essas imagens tão tradicionais representam uma pequena parte do conflito. Neste conflito, o campo de batalha invísivel é muito mais comum e acontece todos os dias, de forma lenta e dolorosa, e, com certeza, contribui muito mais para a escalada de tensão na região. Aqui o relato de um desses conflitos invisiveis.

Toda sexta-feira, as 15h00, num bairro como qualquer outro em Jerusalem do Leste, chamado Sheikh Jarrah, acontece uma procissão bastante curiosa. Rabinos, Judeus Ortodoxos e Judeus não-Ortodoxos se reunem em frente a um complexo residencial. Para quem observa num relance, se imagina que esta aglomeração representa uma procissão de fieis em direção a uma synagoga. Todos, silenciosamente esperam. Em pouco tempo, aparece em frente ao complexo residencial a Polícia Militar Israelense. Neste momento, um dos rabinos levantam um megafone e grita em Hebreu: “Judeus e Arabes recusando a serem inimigos! Judeus e Arabes sempre amigos!” Em pouco tempo, os policiais avançam no grupo de Judeus, prendendo alguns com bastante violência. Aos poucos, se percebe outra coisa, um outro grupo menor de Judeus-Ortodoxos por trás da corrente policial que vivem dentro do complexo residencial, e, junto com os Judeus que protestam, um grupo pequeno de Arabes-palestinos, que recentemente foram expulsos de suas casas para serem destruídas e se construir em seu lugar, o assentamento judeu em frente qual protestam.

Jerusalem é uma cidade extremamente dividida. Bem no coração da cidade, esta localizada a cidade antiga que, para qualquer turista, parece um retorno a um passado distante. De um lado deste cenário antigo, o Bairro Judeu lembrando partes de Curitiba e do outro, o Bairro Arabe lembrando a Zona Leste de São Paulo. Sheikh Jarrah é localizado no lado leste de Jerusalem, ou seja, no lado Arabe e, para quem acha o conflito muito complicado a compreender, uma olhada rápida na história de Sheik Jarrah pode ajudar a compreender um pouco do conflito por representar uma versão micro do cenário macro que é bastante complexo, mais muito parecido.

O bairro é contestado pelos dois lados. Neste bairro se localiza ao mesmo tempo uma bela Mesquita Muçulmana Medieval dedicada a um dos soldados de Salahadim e também, o tumulo charmoso de Shimon HaTzadik, um Judeu extremamente importante na histório de seu povo. Nos útlimos duzentos anos de história deste bairro, grupos de Judeus e de Arabes viveram lá, quase se revezando a cada cinquenta anos.

Porém, é bom lembrar que este bairro esta do lado Arabe pelas delimitações feita pela ONU quando foi criado o estado de Israel em 1948. Porém, em 1967, Israel anexou militarmente este bairro e o integrou dentro do munícipio de Jerusalem. Esta ação unilitareal de Israel não foi reconhecida pelo Conselho de Segurança da ONU, então, esta em direta contradição com o Direito Internacional. De acordo com a agência da ONU no local, o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, ou OCHA, um terço do Jerusalem Arabe foi expropriado para a construção de assentamentos para Israelenses mesmo com a proibição expressa pelo Direito Internacional.

Também vale lembrar que hoje o bairro é majoritariamente Arabe e vivem 28 famílias ali. A situação é realmente complicada quando se percebe que um lado vive lá há mais de sessenta anos, o outro alega que esses mesmos vivem lá ilegalmente.

Infelizmente, a conclusão acaba sendo uma das cenas mais tristes que já presenciei nas minhas andanças humanitárias: a destruição de casas pela Polícia Israelense sendo observada pelos moradores que viveram e cresceram no local.

Essas destruições não são muito difficil de perder, pois por ano acontecem mais ou menos 100 demolições por ano em Jerusalem do Leste. 1’500 casas já receberam uma ordem de expropriação e aguardam o dia que aparecer um trator em frente de suas casas.

Em Agosto de 2009, quatro famílias foram expulsas com ajuda violenta e fartamente armada da Polícia Israelense.

Por conta de tão grande violência contra seus vizinhos, surgiu um movimento relativamente pequeno, mas bastante variado entre os Israelenses: muitos Judeus começaram a protestar e demonstrar nas ruas a violência que muitas vezes é feita em nome deles por Israel ser um Estado oficialmente Judeu. De acordo com Maya Windl, organizadora dos protestos de Sheik Jarrah, participam deste protesto um conglomerado de ONGs que acreditam num Israel differente, um que respeita seus vizinhos históricos: os Arabes. São essas: the Israeli Committe Against House Demolitions, Taayush, Combatants for peace, Gush Shalom, Anarchists Against the Wall entre outras. Ela também diz que tem pouca esperança em relação a outras iniciatiavas da sociedade civil contra este tipo de ação do governo de Israel. “A sociedade, infelizmente, esta se tornando cada vez mais racista e cada vez mais de direita”.

Fora os Israelenses e Palestinos, haviam Noruegueses, Americanos, Franceses, Canadenses, Brasileiros, todos judeus, contra violência cometido em nome do estado judeu.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Português Ararense e a Linguagem Universal.


Uma semana e meia entre dois mundos. E ainda mal falo o idioma que vim aprender - o Arábe.


Muitas vezes, e cada vez mais (me parece) me deparo na situação que o fabuloso idioma internacional - o inglês - não ajuda.


Semana passada, fui dar uma passeada em Belém - lugar aonde Jesus nasceu. O tal lugar, é uma igreja extremamente curiosa. A história da tal igreja parece alguém tentando montar um castelo de areia num dia chuvoso. Primeiro se contruiu uma estrutura, daí veio uma chuva fina e desfigurou, daí se re-contruiu, daí veio um chuvareu mais poderoso. E etc etc. Favor interpretar a chuva como guerras, invasões, ataques de outros povos, outras religiões, em mais de 2000 anos de história. Isto faz com que a Igreja não tem forma, mas várias formas, vários materiais. Com certeza podemos dizer que é um teto, um teto que acolhe turistas de inúmeras partes do mundo, todos cristãos, mas também um grande numero de muçulmanos (não nos esquecemos que Jesus foi um importante profeta para os Muçulmanos).
Conversando com alguém, o dono de um restaurante em frente a igreja - aprendi que em 2002, militares Israelenses invadiram a cidade de Belém para procurar militantes Palestinos. Quando os militares cercaram a cidade, deixando os militantes sem lugar para fugir, esses, espertamente, foram se esconder na igreja - sabendo de sua santidade e importância para o mundo. Acuados, os militares não invadiram. 200 pessoas ficaram escondidas dentro da igreja durante quase 40 dias. Eventualmente, governos Europeus junto com grupos extremamente religiosos conseguiram negociar a saída dos Palestinos e o re-assentamento desses em outros países.


Mas voltando no idioma - percebi que em Belém, poucos falavam Inglês e qualquer outro idioma que arranho. No começo, e um pouco frustrado, lançava um inglês contra qualquer um que queria me comunicar. O ouvinte, nunca entendia.


Eventualmente, liguei o tão famoso "Ferre-se" (sou um cara educado demais).


Saí por aí conversando com meu Português interiorano para cima e para baixo, para comprar coisas, perguntar direções, e jogar conversa fora.


Incrivelmente: as pessoas me compreendiam.


Não quero parecer muito sociólogo, mas quando se fala um idioma que vem do coração - as pessoas entendem (ou interpretam) muito mais fácil que quando se fala um idioma que se estudou ou aprendeu.


Incrivelmente, acredito, as pessoas falam Ararense em Belém.

Feliz Aniversário Tefi!











sábado, 30 de janeiro de 2010

Muro das Lamentações




Muro das Lamentações e ao fundo a Cúpula do Rocha (o terceiro santuário mais importante na fé Islámica)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Passeio fotográfico por Jerusalem num dia de chuva...




Minha favorita: se olharem bem, um Judeu de um lado e um Palestino do outro.

Lições Brasileiras...

Ao ver casas sendo destruídas a vista de seus moradores. Me lembro deste verdadeiro heroí Brasileiro e o exemplo que ele poderia dar aos tratoristas:


E os jovens...uma crônica fotográfica de um protesto.

Jovem Judeu Ortodoxo assiste a um protesto contra o Assentamento aonde ele vive. Sheik Jarrah, East-Jerusalem, Janeiro 2010.

Jovem Judeu (com "kipa" azul no fundo) protesta contra Assentamentos Judeus em Bairros Arabes de Jerusalem. Sheikh Jarrah, East-Jerusalem, Janeiro 2010.


Jovem Palestinos que foi retirado a força de sua residência assiste a um protesto Judeu/Israelense contra essas práticas. Sheikh Jarrah, East-Jerusalem, 2010.


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O "Itch"


O leitor que vê esta palavra que coloquei no título pode achar que é alguma palavra em Árabe ou em Hebreu.


A verdade é que a palavra é simplemente em inglês, e quer dizer "coçeira", mas no sentido que eu ouvi a palavra recentemente, ela quer dizer algo que mais se aproxima a "anseio" ou "desejo" em português.


Ouvi esta palavra num pequeno ônibus que ia do aeroporto de Ben Gurion Tel Aviv para Jerusalem. O ônibus estava lotado de Judeus Hassidicos, eu era praticamente o único que não estava vestido de preto a caráter. O que não impediu da conversa fluir naturalmente.


Aos poucos, fomos conversando, a maioria deles eram americanos, e foram conversando sobre Chiago, Nova Iorque e Boston. Todos ficaram muito surpresos por eu, primeiro, não ser judeu, e segundo, ser Brasileiro. Todos queriam saber o que eu vinha fazer ali, com um olhar meio desconfiado que me deu "flash-backs" do meu terrível interrogatório no aeroporto. Contei da minha tripla vontade de conhecer Jerusalem, estudar os idomas dali e compreender um pouco mais o que acontecia ali.


Daí perguntei para eles qual o motivo da viagem. Todos responderam quase ao mesmo tempo: "the itch". Todos começaram a falar desta tal de "coçeira", ou "anseio" - que é um sentimento que todo Judeu começa a ter quando ficam muito tempo sem voltar para a cidade sagrada deles - Jerusalem.


Que todo Judeu volta para sua cidade de vez em quando para acalmar a tal "coçeira". Falaram longamente sobre este sentimento, este anseio de voltar. E não só isto, mas falavam apaixonadamente sobre Jerusalem. Que Jerusalem é o único lugar que eles tem neste mundo e o quanto é importnate para a história, para a identidade e para a religião deles.


Fiquei realmente emocionado, me fez lembrar a importáncia que o Brasil tem para mim, e minha cidadezinha de Araras - a cidade berço da minha família.


Pena que esta paixão tão sincera, também serve para cultivar remorços.

domingo, 24 de janeiro de 2010

E por falar em dois mundos...

Foram apenas dois dias aqui, mas já estava começando a ficar um pouco frustrado com o que ouvia. Vim atrás de paz, mas ouvi muito ódio nas minhas tentativas de conversar com praticamente todo mundo.

Perguntei para dois Israelenses se eles estudavam Arabe na escola – já que Arabe era um dos dois idiomas oficiais de Israel fora o Hebreu – e me dei mal – a pergunta não foi muito bem recebida. Alias, bem mal, a conversa terminou ali. Por outro lado, quando perguntava aos vendedores arabes sobre o conflito, a conversa rapidamente se transformava a uma conversa agrádavel a uma chuva de palavrões.

Mas neste segundo dia, foi salvo por uma história de paz.

E é claro que numa cidade tão turistica – fui conhecer um casal de Japonês. Os dois mais ou menos da minha idade estavam fazendo uma viagem pelo oriente médio de mochilão.
Tudo começou quando perguntei para eles como era o tratamento de turistas Japoneses no oriente médio. Foi aí que ouvi uma história fantástica, uma história de paz. Eis o que me contaram.

“Somos bastante mal recebidos em todos países por aqui, mas somos muito bem recebidos na Turquia.” Quando perguntei porquê:

A nossa história começa faz uns 150 anos, quando o mundo era um lugar muito menos internacional do que é hoje, e muitos países do mundo procuravam mostar sua coragem pela conquistas dos alto mares e oceanos. Foi neste mundo em 1863, que um návio Turco (Militar Ottomano), chamada Ertugrul, deixou seu país e foram se aventurar pelo mundo para descobrir novas terras e mostrar a todos, que Turcos também conseguem dar volta ao mundo.
Depois de chegar próximo ao Japão, o návio encontrou uma tempestada terrível e pelo pavor do grande numero de pessoas a bordo, virou. Da costa, observavam uma comunidade pobre de pescadores Japoneses. Ao verem o návio militar estrangeiro virar, não pensaram duas vezes. Reuniram todos os pescadores desta humilde comunidade, e foram resgatár-los.
Infelizmente. Morreram 533 marinheiros turcos.

Mas graças aos esforços dos pescadores - sobreviveram 68 graças aos esforços dos japoneses que enfrentaram as terriveis ondas para resgatar-los e alguns corpos. Os corpos foram depois carinhosamente enterrados, numa tumba que até hoje tem a bandeira turca. Poucas semanas depois, muito comovido pelo terrível accidente, o Imperador japonês organizou um barco oficial, levando os Turcos sobreviventes de volta para casa e até, alguns dos pescadores pobres para conhecer esta estranha terra. Começou uma amizade forte entre esses dois povos tão diferentes. Mas a história não termina aí.

100 anos depois. Saddam Hussei declarou guerra ao Irã, em 1980 e disse que todos os diplomatas internacionais do país tinha 24 horas para evacuar senão iriam ser preso dentro da guerra. Todos os países conseguiram evacuar seus diplomatas a tempo, fora os Japoneses, pois não haveria tempo para que o governo Japonês enviasse um avião do Japão para resgatár-los. O corpo diplomático aguardou o pior. Não poderiam voar depois das 24 horas pois qualquer avião estrangeiro seria abatido em pleno ar.

Quem salvou os Japoneses foi o governo Turco que enviou um avião da Turkish Airways para buscar-los e mandar-los com segurança de volta para o Japão.

Dois povos tão diferentes, tão distante em religião, cultura e costume – e uma amizade tão forte.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Conversa Agradável no Aeroporto...

Primeiro dia antes de Israel. Assim começou a minha viagem para cá. E podemos dizer que começou BEM emocionante.

Fui fazer o Check-in no Aeroporto de Heathrow em Londres.

O check in começou aparentemente sem problema com algumas perguntas básicas sobre segurança.

Aos poucos, e não sei exatamente quando, falei alguma coisa MUITO errada que não sei até agora dizer o que foi. Digo MUITO errada pois pouco desde aquele momento, iniciou-se um interrogatório que demorou três horas que me fez quase perder o meu avião.


A conversa, que logo foi para interrogatório e aos poucos se tornou um exame psico-técnico , se fosse gravada, seria um caso interessante para qualquer psicologo que estuda comunicação entre duas pessoas conversando e trocando conversas paralelas.

Nos primeiros quarenta minutos, foi interrogado por três pessoas differentes em frente aos olhares curiosos de todos os outros passageiros. Foi uma experiência tão desagradável, e imagino que meu nervosismo fez com realmente parecesse que estava querendo fazer algo de errado.

Eventualmente, não muito satisfeito com o primeiro interrogatório, foi para o segundo. Me escoltaram para dentro de uma salinha. Sem nenhuma explicação de aonde estavam me levando ou para quê. Minhas malas naquele momento também. Um dos seguranças me deu um copo de água, aí que pensei - "isto vai demorar".

Fui interrogado por um grupo intercalado de seis pessoas – não sei o que queriam que eu confesasse pois já tinha revelado tudo – até que Araras era uma cidade entre Limeira e Leme no Estado de São Paulo, Brasil. Primeiro foi uma menina (muito nova para chamar de moça!) que me interrogou, depois uma outra moça mais velha, depois um cara engravatado, depois um soldado e etc. Todas com as mesmas perguntas, os mesmo olhares e a mesma attidude de "você é um idiota meu caro amigo”.

- Sir, who packed your bags.
- I did.
- Sir, who packed your bags...
- It was I.
- Sirrrr, who packed your bagss.
- I did, me.
- Sir, let me ask you a very important question: who packed your bags.

Depois, a minha favorita foi:

- Sir, can I check your jacket. (Israelense misterioso some em segunda salinha e fecha cortininha de ducha de hotel barato)
- (aparece outro cara) - Sir, can I check your shoes (retiro o sapato, entrego, este some pela mesma cortina)
- (volta primeiro cara) - sir, here is your jacket, can I check your wallet.
- (30 mins depois de uma boa conversa jogada fora em hebreu atrás da ducha) - Sir, here are your shoes - can I check your jacket again please.
- (20 mins) - Sir, please, let me check your shoes. Thank you for the jacket.

A mais interessante foi:

- What do you know about Arab culture.
- Very little, that is why I am taking this course, to discover both Jewish and Arab culture.
- Did you know that you can study arabic in other countries.
- Yes.
- So why are you studying Arabic in Israel.
- Because I want to discover Jerusalem as well.
- Did you know that it is cheaper to study arabic in other countries.
- Oh really, but I thought my course was very cheap.
- I hope you like good food, Israel has great food. Have a good day. (entra próximo cara).

E bem no final da conversa:

- (eu) If there is something wrong with me going, please let me know so that I can cancel my flight.
- Are you sure, but our conversation here is so pleasant. Don't you think.
- Not really.
- And why do you think that sir...

Fico tranquilo que pelo menos não fui o único que passei por isto: http://www.airlinequality.com/Forum/el_al.htm


Préfacio



A idéia do blog veio depois dos meus primeiros dias de chegar em Jerusalem.

Há um mito muito poderoso sobre esta pequena cidade e sobre esta região. Que é lugar de guerra, de conflito e de ódio.

Como Brasileiro, os eventos desta região parece algo muito distante da nossa realidade. Afinal, somos um país de bastante diferenças, e temos a paz que muitos neste mundo desejam.

Então estou aqui para poder conhecer as duas faces deste conflito, desta tensão. Morando em Jerusalem no Bairro Judeu e viajando cotidianamente para Ramallah aonde estou fazendo trabalho voluntário com refugiados Palestinos.

Cada dia tenho que passar pelo check-point de Kalandiya - aonde a espera pode durar de 20 minutos à 4 horas. Que também faz parte da aprendizagem.