quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Marginal de Araras e Jerusalem

Fazem mais o menos um mês, deixei minha querida Araras para mudar radicalmente de ambiente. Uma oportunidade inesperada de trabalhar como voluntário em um projeto social e estudar Arabe me trouxe aqui para uma das cidade mais disputada e conflituosa do mundo: Jerusalem. Neste primeira mês, tive a oportunidade conversar com pessoas normais dos dois lados do conflito, uma tarefa que seria muito mais dificil se não fosse pela geografia incomum da minha rotina semanal: estou morando no bairro Judeu da cidade velha de Jerusalem e trabalhando em um teatro em Ramallah, na Palestina. Digo que minha rotina é “incomum” pois na realidade há pouquissimo contato entre esses dois mundos tão próximos e tão inimigos por conta de várias separações. Digo separações, pois existe a separação física que é feita por muros, barreiras e check-points militares (que parecem mais ou menos como a fila de imigração num aeroporto internacional com várias maquinas de Raio-X e seguranças) que separam dois. A outra é a separação invisível: que é representada pela diferença cultural, political, social e, principalmente, religiosa que existe entre o povo Palestino e o povo Israelense. Por um lado, insisto que esta segunda differença seja invisível, pois os dois povos tem muito mais em comum do que differente. Me levou um bom tempo para reconhecer a differença entre o idioma Hebreu e Arabe – dois idiomas muitisimos parecidos. Sem esquecer que os dois povos consideram a mesma terra seu lar legítimo. Infelizmente, o mais que converso com os dois lados, o mais me parece que a paz esta distante de chegar por aqui. Nos bairros judeus, todos tem medo dos Homens-Bombas e na Palestina, todos estão cansados da ocupação militar do exercito Israelense.
Depois de um mês, cansado com discursos inflamados de ambos lados, decidi que precisava de uma atividade para relaxar e me distrair – para me sentir em casa, decidi começar a correr como sempre fiz em Araras na minha querida Marginal. Depois de estudar o mapa daqui cuidadosamente, encontrei a minha perfeita Marginal – os muros da cidade antiga. A cidade antiga é praticamente um forte medieval no centro de Jerusalem e me surpreendeu que o muro dá mais ou menos a mesma distância da Marginal – uns 5 kms.
Começei a contar esta minha decisão para alguns conhecidos. A primeira reação foi de um amigo Judeu que conheci próximo ao muro das Lamentações. “Você vai correr em volta da cidade velha! Mas isto é loucura, é muito perigoso! Você vai passar pelo lado Arabe da cidade!” Pouco depois, contei para um amigo Arabe que também me desaconselhou: “Mas no lado Israelenses tem muitos soldados, eles tem fama de atirar em tudo que se move, a não ser que você queira correr não se movendo!”.

Confesso que essas declarações preocupadas me fizeram pensar duas vezes antes de colocar o sapato e quedis. Mas aos poucos, a vontade correr me fez vencer o medo. Corri. Por minha surpresa, fui aplaudido por várias pessoas que nunca viram ninguem correr por ali. Algumas gostaram, outras, olharam com olhos arregalados o ET Ararense. Fiquei bastante animado e decidi correr mais frequentemente. Ao contar a experiência para os dois que me haviam desaconselhados os dois tiveram mais ou menos a mesma reação: também queriam começar a correr.

Este pequeno episódio, me lembrou que antes de partir de Araras quando eu corria pela Marginal, corria absolutamente sózinho, sem encontrar outros corredores Ararenses. Um pouco preocupado, perguntei para os frentistas dos muitos postos que se encontram em volta da Marginal. A resposta deles foi mais ou menos igual: “agora não é como antes, a Marginal é um lugar perigoso, aconteceu até um assassinato aqui.” Tristemente, lembrei de meu amigo Caio, vítima deste acontecimento infeliz em nossa cidade. Porém, por outro lado, o horro deste acontecimento, e os tantos horrores que acontecem aqui em Israel, me anima a correr mais ainda para justamente não dar a vitória para aqueles que querem tirar nossa liberdade, seja ele, o racismo ou intolerência religiosa em Israel, ou a violência Brasileira.

Um comentário:

  1. Esse artigo e um dos meus preferidos seus meu Guga. E sabe que ele me ajuda a comecar meu power walk mesmo qdo nao estou muito afim?
    Ja fez aqui, meu filho, uma diferenca no mundo comigo.Imagina entao os que te veem correndo?

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