sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O artigo não publicado

Tentei publicar este artigo recentemente. Ofereci ele a alguns jornais e também para algumas "vozes" do oriente médio.

Infelizmente, não foi publicado. Uma das pessoas que foi mais sinceras comigo me disse abertamente que o artigo "não se posiciona" em relação a um lado do conflito.

Pois reconheço que o objetivo do artigo era ser neutro. Acredito que o mínimo que uma pessoa possa fazer aqui, como membro da comunidade internacional, é evitar apontar os dedos e procurar analisar as coisas como elas são. Pois só sobre a neutralidade é que se constroí a paz. A preocupação, ao meu ver, tem que estar nos dois lado.

Aqui esta o artigo.

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Jerusalem é uma cidade maravilha mas infelizmente dividida. No coração da cidade, esta localizada a cidade antiga que, para qualquer turista, parece um retorno a um passado distante. Aqui não circula nehum carro e as ruas para pedestres parecem um labirinto infinito, no qual não é muito diffícil se perder e, é claro, encontrar grande numeros de igrejas, mesquitas e synagogas. Fora dos muros da cidade antiga, a cidade nova é dividida entre o Bairro Judeu (Jerusalem do Oeste) lembrando partes de Curitiba e do outro, o Bairro Árabe (Jerusalem do Leste) lembrando a Zona Leste de São Paulo aonde também se encontram a maioria das embaixadas estrangeiras. Sheikh Jarrah é um bairro localizado em Jerusalem do Leste e esta lentamente se tornando um novo campo de batalha num conflito maior e complexo.

O bairro tem uma história complicada e controversa. O único sinal visível desta história é a presença de uma Mesquita Muçulmana Medieval dedicada a um dos soldados de Salahadim e também, o tumulo de Shimon HaTzadik, um Judeu extremamente importante na história do povo judeu.

Desde Novembro de 2008, quatro casas de residentes Palestinos foram demolidas em Sheikh Jarrah pela Polícia Militar Israelense. Em alguns casos, as família que tiveram suas casas demolidas tiveram que pagar multas por viver lá “ilegalmente” e também as despesas necessárias para cumprir a demolição. Mesmo sendo um bairro majoritariamente Arabe nos últimos sessenta anos, em 2008, um Tribunal da Municipalidade de Jerusalem declarou que algumas partes do Bairro pertence a uma Comunidade Judia. A expulsão da primeira família, a família al-Kurd, em Novembro de 2008, foi seguida imediatamente pela mudança de uma família de Judeus ortodoxos neste lugar.

Tudo começou há dois séculos atrás quando no final do século 19, se estabeleceram lá quase simultaneamente, uma comunidade Judia e uma vila Arabe. Ambos se desenvolveram pacificamente até guerra de 1948 entre Israel e países Arabes. Naquele momento a ONU tomou conta do lugar e em 1956 foram reassentadas em Sheikh Jarrah 28 famílias que foram expulsas da região de Haifa e outras de Jerusalem do Oeste pelo Exercito Israelense. Em 1967, durante a guerra de seis dias, Israel anexou militarmente a área e a integrou dentro do munícipio de Jerusalem. Esta ação vai contra o direito internacional pois não foi reconhecida pelo Conselho de Segurança da ONU, pois um país não pode anexar um país que ele ocupa militarmente. Desde os anos 80, a mesma comunidade Judia tem tentado reapropriar o bairro por ações judiciais. Por conta disto, de acordo com a agência da ONU no local, o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, ou OCHA, um terço do Jerusalem Arabe já foi expropriado para a construção de assentamentos para Israelenses mesmo com a proibição expressa do Direito Internacional de que tribunais Isralenses possam exercer sua soberania sobre o bairro.
Infelizmente, demolições já se tornaram comum: de acordo com a ONU acontecem mais ou menos 100 demolições por ano e outras 1’500 casas já receberam uma ordem de expropriação e aguardam o dia da demolição de suas casas.

Toda sexta-feira, as 15h00, o bairro de Sheikh Jarrah recebe uma procissão curiosa. Rabinos, Judeus Ortodoxos e Judeus não-Ortodoxos se reunem em frente ao complexo residencial do qual foram expulsas as famílias e aguardam tranquilamente o grupo crescer e a chegada infalível da Polícia Militar. Neste momento, um dos rabinos levantam um megafone e grita em Hebreu e em Árabe: “Judeus e Arabes recusando a serem inimigos! Judeus e Arabes sempre amigos!” Em pouco tempo, os policiais avançam sobre o grupo e existem vários relatos sobre a violêcia excessiva dos policiais. Num protesto recente, a polícia prendeu 24 pessoas.
Ao lado dos protestantes, esta sempre presente o pequeno grupo de Palestinos que foram expulsos de suas casas. Do outro lado dos policiais, um grupo menor de Judeus-Ortodoxos que vivem dentro do complexo residencial observam os demonstrantes.

O protesto de Sheik Jarrah, que acontece pontualmente as 15h todas sexta-feira é uma cena insólita: Judeus gritando pelo fim da demolição de casas para a construção de complexo residencial Judeus. De acordo com Maya Windl, organizadora dos protestos de Sheik Jarrah, participam deste protesto um conglomerado de ONGs que acreditam num Israel differente, um que respeita seus vizinhos históricos: os Arabes. São essas: the Israeli Committe Against House Demolitions, Taayush, Combatants for peace, Gush Shalom, Anarchists Against the Wall entre outras. Ela também diz que tem pouca esperança em relação a outras iniciatiavas da sociedade civil contra este tipo de ação do governo de Israel pois na avaliação dela: “A nossa sociedade, infelizmente, esta se tornando cada vez mais racista e cada vez mais de direita”.

Fora os Israelenses e Palestinos, haviam Noruegueses, Americanos, Franceses, Canadenses, e até Brasileiros, todos mostrando a preocupação internacional em relação ás expulsões e demolições. Porém, a organizadora lamenta: “a grande mídia esta mais interessada em homens bomba ou nos ataques do F-16 Israelenses em Gaza.”

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