quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O curioso protesto em Sheik Jarrah

Uma guerra é representada por dois campos de batalhas: um visível e o outro invisível. No conflito entre Palestinos e Israelenses a batalha visível são as cenas tão conhecidas de jovens palestinos lançando pedras contra tanques israelenses e homen bombas palestinos em cidades israelenses.

Estando aqui em Jerusalem, posso afirmar que essas imagens tão tradicionais representam uma pequena parte do conflito. Neste conflito, o campo de batalha invísivel é muito mais comum e acontece todos os dias, de forma lenta e dolorosa, e, com certeza, contribui muito mais para a escalada de tensão na região. Aqui o relato de um desses conflitos invisiveis.

Toda sexta-feira, as 15h00, num bairro como qualquer outro em Jerusalem do Leste, chamado Sheikh Jarrah, acontece uma procissão bastante curiosa. Rabinos, Judeus Ortodoxos e Judeus não-Ortodoxos se reunem em frente a um complexo residencial. Para quem observa num relance, se imagina que esta aglomeração representa uma procissão de fieis em direção a uma synagoga. Todos, silenciosamente esperam. Em pouco tempo, aparece em frente ao complexo residencial a Polícia Militar Israelense. Neste momento, um dos rabinos levantam um megafone e grita em Hebreu: “Judeus e Arabes recusando a serem inimigos! Judeus e Arabes sempre amigos!” Em pouco tempo, os policiais avançam no grupo de Judeus, prendendo alguns com bastante violência. Aos poucos, se percebe outra coisa, um outro grupo menor de Judeus-Ortodoxos por trás da corrente policial que vivem dentro do complexo residencial, e, junto com os Judeus que protestam, um grupo pequeno de Arabes-palestinos, que recentemente foram expulsos de suas casas para serem destruídas e se construir em seu lugar, o assentamento judeu em frente qual protestam.

Jerusalem é uma cidade extremamente dividida. Bem no coração da cidade, esta localizada a cidade antiga que, para qualquer turista, parece um retorno a um passado distante. De um lado deste cenário antigo, o Bairro Judeu lembrando partes de Curitiba e do outro, o Bairro Arabe lembrando a Zona Leste de São Paulo. Sheikh Jarrah é localizado no lado leste de Jerusalem, ou seja, no lado Arabe e, para quem acha o conflito muito complicado a compreender, uma olhada rápida na história de Sheik Jarrah pode ajudar a compreender um pouco do conflito por representar uma versão micro do cenário macro que é bastante complexo, mais muito parecido.

O bairro é contestado pelos dois lados. Neste bairro se localiza ao mesmo tempo uma bela Mesquita Muçulmana Medieval dedicada a um dos soldados de Salahadim e também, o tumulo charmoso de Shimon HaTzadik, um Judeu extremamente importante na histório de seu povo. Nos útlimos duzentos anos de história deste bairro, grupos de Judeus e de Arabes viveram lá, quase se revezando a cada cinquenta anos.

Porém, é bom lembrar que este bairro esta do lado Arabe pelas delimitações feita pela ONU quando foi criado o estado de Israel em 1948. Porém, em 1967, Israel anexou militarmente este bairro e o integrou dentro do munícipio de Jerusalem. Esta ação unilitareal de Israel não foi reconhecida pelo Conselho de Segurança da ONU, então, esta em direta contradição com o Direito Internacional. De acordo com a agência da ONU no local, o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, ou OCHA, um terço do Jerusalem Arabe foi expropriado para a construção de assentamentos para Israelenses mesmo com a proibição expressa pelo Direito Internacional.

Também vale lembrar que hoje o bairro é majoritariamente Arabe e vivem 28 famílias ali. A situação é realmente complicada quando se percebe que um lado vive lá há mais de sessenta anos, o outro alega que esses mesmos vivem lá ilegalmente.

Infelizmente, a conclusão acaba sendo uma das cenas mais tristes que já presenciei nas minhas andanças humanitárias: a destruição de casas pela Polícia Israelense sendo observada pelos moradores que viveram e cresceram no local.

Essas destruições não são muito difficil de perder, pois por ano acontecem mais ou menos 100 demolições por ano em Jerusalem do Leste. 1’500 casas já receberam uma ordem de expropriação e aguardam o dia que aparecer um trator em frente de suas casas.

Em Agosto de 2009, quatro famílias foram expulsas com ajuda violenta e fartamente armada da Polícia Israelense.

Por conta de tão grande violência contra seus vizinhos, surgiu um movimento relativamente pequeno, mas bastante variado entre os Israelenses: muitos Judeus começaram a protestar e demonstrar nas ruas a violência que muitas vezes é feita em nome deles por Israel ser um Estado oficialmente Judeu. De acordo com Maya Windl, organizadora dos protestos de Sheik Jarrah, participam deste protesto um conglomerado de ONGs que acreditam num Israel differente, um que respeita seus vizinhos históricos: os Arabes. São essas: the Israeli Committe Against House Demolitions, Taayush, Combatants for peace, Gush Shalom, Anarchists Against the Wall entre outras. Ela também diz que tem pouca esperança em relação a outras iniciatiavas da sociedade civil contra este tipo de ação do governo de Israel. “A sociedade, infelizmente, esta se tornando cada vez mais racista e cada vez mais de direita”.

Fora os Israelenses e Palestinos, haviam Noruegueses, Americanos, Franceses, Canadenses, Brasileiros, todos judeus, contra violência cometido em nome do estado judeu.

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